NOMES FORÁNEOS NA LITERATURA GALEGA [DE MURGUIA A GUERRA DA CAL] (I)

José-Mª Monterroso Devesa
Adiantando-nos ao centenário de Pondal (1917-2017)
e in memoriam Obdulia Membiela Rodríguez-Abente,
de quem, hai 50 anos, ouvimos, pola primeira volta,
saudosamente dito A campana de Anllóns.
“Mi madre, que era de aquella tierra en que ni se teme ni se
miente, me dio con su sangre el eterno amor al país natal.”
Manuel Murguía, Los precursores.
“Como en Irlanda, / Érguete e anda!”
Alfredo Brañas

INTRODUÇOM 
Aquela frase do pequeno genial que Murguia foi, casa à perfeiçom cumha nossa velha ideia, nada original, de que, além e antes dos processos educativos, os genes transmitem tendências ou atitudes, ideia cada dia mais vigente, mas hoje sem os grossos traços racistas de épocas pretéritas. 
Aplicada ao nosso meio, de sempre paramos mentes na condiçom binacio-nal de muitos dos nossos homes e mulheres especialmente valiosos, val dizer: galegos com alguns genes foráneos, maiormente manifestados nalgum dos seus dous primeiros apelidos -o que já marca umha limitaçom-, pois que nom nos é dado, geralmente, aceder a mais… (o quarto de Castelao, por exemplo, é o italiano Gemme)1. Já temos comentado2 como Galiza foi tamém país de imigrantes. 
Nom imos aqui despregar, aclaremo-lo, gentes foráneas que figuram, com toda justiça, na Literatura galega (v.g. Lorca) -os poetas alófonos de Alonso Montero-, nem os literatos próprios que pertencem às letras espanholas, bem que alguns cultivassem temática galega (De la Sagra, Concepción Arenal, Vicetto, Aguirre, Valle, Linares-Rivas, Madariaga, Torrente)3, embora vários deles possuam (Arenal Ponte, Vicetto Pérez…) ascendentes de galega estirpe. Tamém nom falaremos dos Gambino ou Lloréns (plásticos), dos Adalid ou Gaos (músicos), dos Aller ou Wonenburger (científicos), etc., etc. 
Limitaremo-nos entom a uns quantos nomes do nosso parnaso que delatam nom galego algum dos seus dous primeiros apelidos, e trataremo-los por ordem cronológico do seu nascimento. Finalmente, verá-se que a informaçom é desigual para cada indivíduo: nom se tivo para todos a documentaçom desejável que futuros estudosos poderám, sem dúvida, conseguir e aportar. 
I.MURGUIA E PONDAL 
I.1.Manuel Antonio Martínez MURGUIA (1833-1923). Segundo temos estudado4 contodo e ter declarado Murguia essa devoçom filial pola mai… é inexplicável o siléncio que ele guardou sobre a culta linhagem materna basca dos Murguia/ Murgia. 
Com efeito, a mai de Murguia (Concepción Murguia Egaña, de Oiartzun-Gipuzkoa) era irmá de José Joaquín, filha de Domingo María (1762-1844) e sobrinha de Joaquín Tadeo Murgia Azkonobieta, todos três organistas e algum deles compositor: val a pena lembrar que, nos funerais de Rosalia (quando o polémico traslado dos seus restos de Íria Flávia a Sam Domingos de Bonaval, em Compostela, 1891) se cantou umha misa de réquiem dum avô (Domingo ou Joaquín?) de Murguia. 


Desbotado o galego Martínez, o euskera Murgia (que equivaleria ao nosso Outeiro) alcançou imortalidade da mao do precursor e de seu filho, o pintor Ovidio Murguia. 

I.2.Eduardo María GONZÁLEZ-PONDAL ABENTE (1835-1917). Quanto ao noso bardo, cumpre salientar que ambos os apelidos dele som de procedência foránea. O Abente é, até agora, de misteriosa natureza: nós aventuramo-lo saído do apelido francês Avent (advento)5: nom perdamos de vista -e repetire-mo-lo mais adiante- que estas terras marítimas acolherom de sempre gentes estranhas arribadas por mar. Mas seu trisavô (vulgo: tataravô) Andrés de Abente Costoya -o antepassado mais recuado que pudemos ubicar, morto em Esto (hoje Cabana de Bergantinhos) e avizinhado ali tanto como na imediata Anlhons (hoje Ponte Ceso), onde foi sepulto- já era galego, como o denota o seu segundo apelido. 

Esse Abente levarom-no de primeiro figuras como o curmao mugiám do bardo, Victorino Abente Lago (1846-1935), poeta no Paraguai tanto em espanhol como em galego, e seu irmao, o general de Sanidade Militar Ezequiel Abente Lago (1841-1923) -que dá nome ao ex-hospital militar corunhês-, ambos filhos de Leandro Abente Chans6… assi como o sobrinho deles, o poeta mugiám Gonzalo López Abente (1878-1963). (Por sua volta, a mai de Eduardo, Ángela Abente Chans e seu citado irmao Leandro eram filhos de Rosario Chans Mourelle, sobrinha do almirante cormelao Francisco Antonio Mourelle, 1750-1820). 

Quanto a Pondal, asturiano é: o bisavô do poeta, Bernardo González Pondal7, provinha de Lugo de Llanera (em cuja freguesía se acha como topónimo) e até o pai conservarom o patronímico González, que mesmo Eduardo chegou a utilizar nos seus comezos. 

Outro Pondal lembrável foi o lagês Isidro Parga Pondal (1900-1986), eminente geólogo, neto de Isidro Pondal Abente, curmao este por mai do bardo, e primo dele em segundo grau por pai. 

Menos mal para ele que a galego tam racial como o autor d’Os Pinos lle restarom -mália num terço e quarto lugar- os dous galeguíssimos apelidos, Frois e Chans, das avoas! 


II.LAMAS, SALINAS, MARTELO, TETTAMANCY 

II.1.Valentín Lamas CARVAJAL (1840-1906). Esse Carvajal materno era, na realidade, CARVAJALES. Cuja mai Manuela de Lugo era. O apelido, espanhol, poderia vir dum topónimo Carbajales em Samora. Nom seria raro, no entanto, que fosse umha castelhanizaçom de Carvalhais ou Carvalhás. 

II.2.José María Carmen Galo SALINAS Rodríguez (1852-1926). Disque Salinas é apelido navarro: entom será da Navarra castelhana, nom da que fala euskera e o reflicte assi na sua toponímia. Por outra banda, Salinas é topónimo de Astúrias e doutras regions espanholas. 

II.3.Evaristo Martelo PAUMÁN DEL NERO (1853-1928). Este Paumán del Nero, composto dum provável Paumann alemám e um indiscutível italiano Del Nero, já o levava seu avô Juan Paumán del Nero, cuja mai era oriunda de Génova1: Nero=Negro. 

A mai de Evaristo, Mª Dolores Paumán del Nero Zuazo, transmitiu-lhe, através desse Zuazo euskera, o título de (VI) marquês de Almeiras (herdado dos Zuazo Mondragón que, em tempos, habitarom o palácio corunhês, hoje inexistente, que se erguia na confluência das ruas Santo André e Torreiro: o filho de Evaristo, Ramón Martelo de la Maza -curmao de Pedro Barrié de la Maza-, VII marquês, habitou, pola sua parte, o outro palácio da corunhesa rua da Franxa que actualmente alberga a Escola de Dança da Deputaçom da Corunha). 

II.4.Francisco Andrés TETTAMANCY GASTÓN (1854-1921). Se bem nom tivo grande obra em galego, foi home de destaque no movimento galeguista corunhês. Esse Tettamanzy (cuidamos ser Tetamanzi a sua correcta ortografia: houvo, no XVII milanês, um frade músico Francisco Tetamanzi) já foi Tettamanci na acta de baptismo do escritor. E herdou-no de seu bisavô italiano, outro Francisco Tettamanzi (sic), de Parès, na província de Como. 

Quanto a Gastón, sua mai Gastón e Cris-tián era filha de navarro e francesa. 



III.BRAÑAS, CARRÉ, LUGRIS, LABARTA, HERRERA, NORIEGA 

III.1.Alfredo José Francisco Higinio Brañas MENÉNDEZ (1859-1900). Estoutro iniciador, com Murguia, e desde outras trincheiras ideológicas, do galeguismo político do XIX, está cantando, com esse Menéndez, o asturianismo materno (embora seu avô de mai já era galego), pois se hai um apelido astur típico esse é tal patronímico… que em galego-português dá Mendes/Méndez (Lembre-se, mesmo, ao corunhês circunstancial Menéndez Pidal). 

Por Brañas era familiar dos Brañas Sánchez Boado, dos Brañas Fernández e dos Puente Brañas, todos da intelligentsia corunhesa. 

III.2.Eugenio CARRÉ Aldao (1859-1932). O fundador, coa sua dona, da família literária dos Carré Alvarellos, levava, além do fidalgo materno, esse apelido de seu avô catalám de Calella (Barcelona: que Carvalho Calero fai de Girona, por ser esta a diócese que lhe corresponde a tal vila)… apelido que foi simplificaçom fonética de Carrer (caminho, rua). 

III.3.Manuel Antonio LUGRIS Freire (1863 -1940). Vedeaí outro fundador de família destacada na política, na literatura, nas artes, na cultura em geral, da que ele foi o exemplo mais cabal. Aqui somente tratamos o aspecto onomatológico do home que levou esse apelido que, desde hai anos, vimos estimando estrangeiro…de longa radicaçom no país (ver depois o caso Pose). 

Como no caso de Abente, é necesário salientar a sua condiçom de costeiro e concentrado nesse ponto da costa galega que é o concelho de Oleiros e as freguesias de Serantes e Maianca -o 88% dos que o portam habitam os concelhos de Oleiros, Ferrol e Corunha-8: de Serantes procedia o pai de dom Manuel. A última vez expuxemos a nossa hipótese nesta mesma publicaçom2 e reiteramo-la aqui: 

“Concentrado na marinha oleirense desde meiados do século XVII, reputamos británico [este apelido, tamém escrito daquela Logrís], por se parecer ao topónimo céltico Lough Rea, fazendo referência ao lago Rea ou Lago Gris irlandês que dá nome à cidade sita na sua ribeira” (Lough tem a sua correspondência no escocês Loch, e o engadido do “s” é fenómeno habitual nos nomes próprios, topónimos ou antropónimos). 

Mas, a maiores, temos que confesar que o feitio físico de vários integrantes desta família (como dos Williman Lugrís uruguaianos) nos leva irremissivelmente a relacioná-los com aquelas corpudas gentes do Norte britano. 

III.4.Enrique Cándido Esteban LABARTA Posse (1863-1925). Tangenciando o discutido apelido Pose/Posse, tam extendido pola Corunha atlântica -que se tem qualificado tamém de estrangeiro, quer sueco, quer alemám, quer francês, desde quando menos o século XVI entre nós- dediquemo-nos ao Labarta. 

Este Labarta é tido por catalám9, como variante de La Bartra, que designa umha Silva levantina, tamém como o francês Labarthe, co mesmo significado5… embora o avô

Labarta já era galego, da freguesia ourensana de Lebosende.

III.5.Francisca Basilia HERRERA Garrido (1869-1950). Fica demostrado por nós, através da documentaçom eclessiástica3 como “em Sam Jorge da Corunha é baptizada Francisca Herrera Garrido, filha de Manuel (da mesma) e neta de Antonio Ferrera (sic), este de Sam Mateus, na Angra do Heroísmo (Açores).

“Com estes dados nom é difícil deduzir que esse Ferrera português fora, realmente, o tam comum Ferreira, a qual mudança pareceria feita no momento de inscrever aquele pai.”

E entom, em rigor, nom caberia incluir

Francisca, com tam castelhano como falso

Herrera, nesta série de apelidados foráneos… nem tamém na versom Ferreira, tam portugue-sa como galega.

III.6.Antonio Manuel Jesús María Fernández NORIEGA Varela (1869-1947). Outro apelido, como Pondal, de procedência astur, em cuja regiom se acha o topónimo originário… nom obstante ser já galego (e de Ferrol) seu avô Domingo Fernández Noriega. Aqui tamém se déu o abandono cedo do apelido patronímico Fernández10.


Imaxes por orde de aparación.: Manuel Murguía. La Esfera, 24/02/1923
Pondal retratado por Cortés. A.C.G., 10/1933
NOTAS, BIBLIOGRAFIA E FONTES
1. Guasco di Celle, G.- 4 nomes italianos nas letras da Galiza, rev. Agália nº 41, 1995.
2. Monterroso Devesa, J.M.- ,Os apelidos de Sada (2), rev. Areal nº 8, 2014.
3. Monterroso Devesa, J.M.- Questaozinhas onomatológicas da Galiza, Boletim AGLPG nº 7, 2014. Coa necessária aclaraçom, aí contida, de ser o Valle de Valle-Inclán simples espanholizaçom do Do Vale originário (sendo neste caso foráneo o asturiano Inclán, como tamém sendo galego espanholizado o De la Peña materno do genial vilanovês)… e Linares-Rivas ter sido antes um Liñares galego.
4. Monterroso Devesa, J.M.- Do avoengo intelectual de Manuel Martínez Murguia, rev. Agália nº 52, 1997.
5. Dauzat, A.- Noms et prénoms de France, 1980.
6. Valdés Hansen, F.- El general de Sanidad Militar Ezequiel Abente y Lago, Cuadernos de Estudios Gallegos nº 121, 2008.
7. Carballo Calero, R.- Historia da Literatura galega contemporánea, 2ª ed., 1975.
8. Cartografía dos apelidos de Galicia, página web. O filólogo galaico-argentino Higino Martins Esteves, na sua recente publicaçom, Etimologias obscuras ou esconsas (Padrom, 2015), valora positivamente esta hipótese.
9. Albaigès, J.M.- El gran llibre dels cognoms cataláns, 2005.
10. Freixeiro Mato, X.R.- A cara oculta de Noriega Varela, 1992.

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