VIVER SEM CELULAR, PODE‐SE?

Manuel B. Dans

Antes de responder cumpre definir o que é na verdade um telemóvel, pois, apessar do nome, trata-se dum aparelho tam complexo que além da funçom para a que foi concebido (telefonar em qualquera lugar onde nos achar-mos) utiliza-se muito mais para enviar mensagens de texto, tirar fotos, gravar vídeos, aceder  à Internet, entreter-se com videojogos, etc… 
Logo desta longa e inconclusa descriçom a pergunta que encabeça o título deste artigo vai-se contestando por sim mesma. Mas o conto, infelizmente, nom se revelará tam simples se fazermos um exercício de memória e retornarmos para o ano 1.999, o momento de os celulares nom se comercializarem ainda, quando a imensa maioria da gente nem sequera sabia da sua existência. Os que amoreamos certa idade, sem ser muita, lembramos bem aquela êpoca que agora parece remota, de maneira que a resposta é obvia: claro que se podia viver sem celular. 
Continuemos perguntando com curiossidade infantilmente reveladora: tam dura ou complicada resultava a vida entom?, passava-se tam mal (tudo o dia) como ocorre hoje quando ficamos sem bateria ou cobertura durante apenas duas horas?, sufríamos daquela de mais estrésse do que padecemos nestes momentos? Também podemos propôr a questom às avessas: vivemos agora melhor do que antes?, tornou a nossa existência mais cómoda ou prazenteira?, atingimos de vez a iluminaçom espiritual? É claro que a melhor contestaçom a este interrogatório é deixar o silêncio expressar-se coa eloqüência que costuma, especialmente se termos presente o facto de a adiçom aos celulares, agora mesmo, ultrapassar, quando pouco, a metade da populaçom adulta. Entre os nossos adolescentes, terrivelmente, atinge três de cada quatro rapaces. Tanto é assim que hoje, muitas pessoas jovens nem compreendem como era possível desenvolver-se na vida quotiá sem o auxílio dum tele-móvel: devem de imaginar, coitados, o celular ser tam antigo como a mesma Humanidade. Se algúm dia o coltám (o material de que estám fabricados) faltar, esses futuros adultos talvez enfrontariam um cenário apocalíptico, semelhante ao que imaginamos nós o dia em que o petróleo se esgotar. 
CIBORGES PSICOLÓGICOS 
Outro exercício interessante para nos aproximar ao mistério dos telemóveis consistiria em deslocar-nos para o futuro, a un hipotético ano 2.034, onde os celulares fossem ultrapassados por um outro novo aparelho, eu que sei, um chapeu cerebral (com nome em inglês, claro, o Brainhat) que ligar os chips direitamente das neuronas, cos humanos convertidos já em autênticos ciborges físicos (agora apenas o somos psicológicos). Quem se negarem a o utilizar seriam alvo das sentenças que conhecidos e amigos espetam diariamente as pessoas que hoje ainda se negam a comprarem (ou ressucitarem) um celular: “vives no passado; “estas-te a desfasar”; “assim te isolas do mundo” (??) Naturalmente, os utentes mais novos do Brainhat nom comprenderiam como hoje, em 2.016, éramos capazes de fazer vida normal sem ele. Por outras palavras, e a jeito de resumo, acreditamos nom dizer um desatino se concluirmos que cos celulares se nos criou umha necessidade que nom tínhamos. 
Há que reconhecer, nom obstante, que se faz muito complicado atacar qualquera avanço tecnológico sem se expôr a contradiçons: se olharmos por volta de nós comprovaremos que sobranceia a ciência aplicada ao pragnmatismo, cousa que vem acontecendo de que nossos antergos mais recuados, há muitos miles de anos, dominaram o lume ou passaram da pedra talhada à pedra pulimentada. Outras invençons igualmente louváveis fôrom a roda ou a imprensa. Talvez a chave do problema esteja em peneirar os quais avanços, postos os benefícios e perjuíços acima dumha balança, serem aceitáveis ou rejeitáveis. Trataria-se do mesmo debate que abrange a idoneidade ou nom da energia nuclear ou da energia tirada da fraturaçom do subsolo, e que se resolveria co retorno a umha vida mais singela, natural e física, mas, sobretudo, urgentemente ecológica. 
A PERDA DO SILÊNCIO INTERIOR 
As pessoas que ainda hoje (e cada vez mais dificultosamente) se resistem voluntariamente a utilizar tecnologias lúdicas como a acô analisada terám cada umha a sua raçom ou raçons para o fazerem. Co fim de abranger tudas elas fai-se necessário redigir umha breve escolma dos prováveis motivos de rejeiçom, independentemente se este autor concordar ou nom com eles: os telemóveis fabricam-se com coltám, um mineral que se encontra sobretudo no Congo, e cujo control exige a Ocidente manter umha imoral e delongada guerra cilvil no país; as conseqüências do uso destes aparelhos, arrimados aos cérebros em formaçom das pessoas jovens, e as radiaçons das antenas de telefonia, nom estám ainda claras para a saúde; os celulares, como porta à Internet, servem os governos e as empresas para nos controlarem e espiarem, do mesmo modo que fazemos nós quando agasalhamos envelenadamente com eles nossos filhos; os vídeos e as câmaras fotográficas que incluem, parceiradas coas redes sociais e a nossa própria fatuidade e extimidade convertem em realidade o pesadelo do Grande Irmao sem necessidade de os tiranos encherem ruas e fogares com câmaras porque já o faze-mos nós, alegremente; finalmente, a comunicaçom constante precariça o nosso silêncio interior e dificulta a meditaçom, a concentraçom ou a intuiçom (para além de cousas mais difíceis de explicar relacionadas co chamado sétimo sentido), e de nada serve o desligarmos o aparelho se nom curtamos também a dependência emocional com ele. Como acontece com tantas outras invençons o progresso tecnológico eivado de progresso social nom serve mais que para amplificar os nossos defeitos. 

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