NOVOS MATERIAIS DE RICARDO FLORES

A. C. Irmáns Suárez Picallo vén de recibir unha –outra– doazón de José Martínez-Romero e Pilar Jeremías: unha parte do legado documental do escritor e activista político e cultural Ricardo Flores, quen, nacido en Sada en 1903, residiu gran parte da súa vida en Buenos Aires, onde faleceu no ano 2002. Alí desenvolveu unha intensa traxectoria como dramaturgo e compilador de lírica e música tradicional galega, formando parte, no plan político, da Sociedade Nazonalista Pondal ou do Consello de Galiza.
Entre os materiais recibidos destacan varias partituras do seu puño e letra e outra do compositor Manuel Prieto Marcos concibida para a obra Mai e filla, do propio Flores. Tamén unha colección de relatos ambientados na súa Sada de Arriba natal, recortes de prensa, dous libros da súa autoría e fotografías. Agradecemos fondamente a Xosé Martínez-Romero e Pilar Jeremías tan valiosa achega.

JOGANDO A BOLINHA

Era ũa tarde asalhosa de verão. As escolas achavam-se fechadas por ser o período das férias (vacações). Num dos rueiros da nossa Terra, mais concretamente dito, de Sada de arriba, lugar onde eu sou nado, estavam três nenos como duns oito ou nove anos jogando às bolinhas. Nisto, aparece outro neno da mesma idade sentando-se num croio grande que fai de tornarrodas à beira dum dos currais das casas que conformam o rueiro.

Este neno amostra-se com face atristada, indo-lhe dando remate a um anaco de bòla que machica vagarosamente, como se mais bem fosse para entreter-se do que para satisfazer o estómago; e meio com dissimulo, bôta olhadas amiúde cara os outros nenos que estám a jogar com muito algueireio, os que já tendo feito reparo nele, olhavam-no de esguelho e fingindo nom se terem decatado da sua presença.

Sucedia, que neste mesmo sítio, os quatro estiveram praticando o mesmo jôgo na tarde do dia anterior, e por cousinhas de nada, pode-se dizer, como polo regular sói acontecer entre esta classe de gente miúda, rifárom afebradamente, chegando um deles a lhe bater a essou-tro neno com um dito magoante que o fijo arredar da companha: “Connosco, nom penses volver a jogar!. Eu polo menos, fago cruz e raia, de nom mesclar-me outra vez contigo em nengum outro jôgo!…”

E velai, pois, o por quê do afastamento e tristura desse neno, doido no espírito e à vez saudoso, cobiçando fazer as pazes com aqueles seus companheiros; mais bem dito, amiguinhos, desde os seus primeiros passos na vida polo chão do mesmo rueiro; logo, do caminho que os conduz à escola, de todos os brinquedos e tamém falcatruas.

A bola nom parava de rolar, empurrada pola unha do dedo polegar da mão direita de cada um dos intervinientes no jôgo, fazendo-o cada um pola sua vez, e deixando de se escuitar o algareio que nos primeiros intres saía das suas gorjas.

Fazendo cessaçom no jogar, e pondo-se os três ergueitos, ajuntam um pouco as cabeças, falando baixinho, somente para os seus ouvidos. E o que na véspera lhe batera com as azedas palavras a esse neno, agora dirige-se ao mesmo, e de jeito doce verte-lhe estoutro dito:

–”Se queres vir jogar connosco, nom fiques aí quentando o croio. Pois ainda que onte che dixem aquilo que che dixem, fai-te de conta de nom ser certo que tem saído da minha boca tal cousa, sabes?, nem che gardamos pinga de aquela, como supomos que contigo sucedera o mesmo tocante a nós. Digo bem, ou nom digo bem?.

O neno prega os beiços com um sorriso que acompanha com um aceno de sim, feito com a cabeça; e na voz dos outros três, à vez, escuita-se o seguinte:

–Pois, ale; achega-te!

Juntos os quatro, procedem a se trocarem ledos sorrisos e ternos apousos de mãos nos ombreiros, para decontado recomeçar o jôgo do jeito amigado de sempre como se entre eles nada tivesse passado, contentes e felizes.

De novo as vozes triunfantes do jôgo resoam no ambiente do rueiro que o tornam como acotio com algueireio infantil e de feliz recreio para tal gente miúda:

“Primeira”…, “Truque”…, “Maistruque”…, “Pé”…, “Passobola”… “Guá”

E deste jeito, franco e sincero, soem ser todos os nenos de qualquer rueiro.

(Da serie de relatos Cousas de qualquer rueiro)


GELO

Fazia mais ou menos um ano, num rueiro do Concelho de Sada, vinha-se produzindo o desaparecimento de aves. Se nom era pola falta dũa galinha, era pola falta dum pôlo ou dũa pita, as queixas sucediam-se um tanto amiúde.

Em todas as casas adoitava-se ter as galinhas ceivas; abriam-lhes a porta do galinheiro de manhã, e botavam todo o dia por fora adiante, catando a vida do jeito que fosse, furando-se, às vezes, para dentro das hortas dos vizinhos, fazendo estragos ao escalar e peteirar nos cultivos que nelas soia haver, dando isso lugar a se produzirem grandes entirquinências entre a gente da vizinhança.

Em se chegando a hora do solpor, tais animais juntavam-se pola banda de atrás da casa, que vem ser a eira, à espera de que lhes botassem ũa ou duas presas de milho de rabeira, ou um anaco de pam esfarangulhado, o que era de costume prévio a se recolherem, e aproveitando esse intre para fazer o seu reconto, já que em quanto findavam de peteirar, a todo bulir, fugiam cara o galinheiro quasi voando, polo medo à noite que se acimava.

Perto do rueiro havia um monte conhecido polo nome de monte de Lisandre, onde num tempo nom de muito atrás, tinham tobos ũa cheia de raposos, fazendo-se mister cuidar muito das aves, senom, polo mesmo dia e a qualquer hora, nas eiras ou nos currais, corriam o risco de serem vítimas das poutas e dos dentes destas alimárias, obrigando à gente a tomar medidas; e para elas, a veda da caça nom regeu na prática em toda a roda do ano, sendo combatidas com furos de escopetadas e esmagamentos de garamelos, logrado-se acabar com o seu perigo.

Perante o novo desaparecimento de aves, fazia pensar na volta da reproduçom dos condanaveis raposos. A derradeira queixa que se escuitara era da boca de Tona de Ponte, faltando-lhe polo visto, ũa galinha.

Era um dia sábado, quasi entre lusco-fusco; por todo o ámbito do rueiro escuitabam-se os berros ceivados a toda gorja:

–Churra… churra… churra…! Churra… churra… churra…! Churra… churra… churra…!

Esganiçou-se a chamar, e todo foi em valuto; a galinha nom voltou a dormir no seu galiñeiro.

Ao dia seguinte de manhã, Tona tivo que ir à tenda, e seguindo quixando-se pola falta da galinha, a tendeira deu-lhe a saber que a véspera ao anoitecer estivera ali Gelo para mercar um neto de vinho e vinha com ũas plumas brancas apegadas na cueira, fazendo rir com ilo à gente.

–E como ele é assim, do jeito que é, nom vaia ser que leve a culpa o raposo e sem merece-la –engadira-lhe a tendeira–

Tona nom botou em saco roto o dito e enfiou por esse lado a pescuda.

Gelo tem arredor de vinte e oito anos, de corpo barudo, ora que dũa mentalidade serôdia, própria dum raparigo, ou melhor dito dum cativo. Seus pais vinheram da outra banda, recem casados, assim que ele nascera neste lugar. Aos poucos meses de terem este filho, as dificuldades para arranjar a vida do lar, obrigarom ao chefe da família a pilhar os ásperos vieiros da emigraçom, ao igual do que tantos outros filhos da nossa Terra.

Um destino malfadado esperava-o nas terras das Américas, e ao cabo de pouco tempo, dous anos, mais ou menos, a sua benquerida dona recebia a desgraçada notícia do seu falecimento. A vida para esta mulher tornou-se de grandeiro sacrifício para se poder valer e criar o seu filho, ao que procurou cuidar da melhor maneira que lhe foi possível, como ũa mai exemplar, medrando e fazendo-se home sempre apegado a ela, que o soubo conduzir e manejar o mesmo de pequeno que quando veu grande.

Fisicamente, Gelo era um moço garrido, que se nom fosse pola eiva da sua cabeça, quantas moças lhe teriam arregalado os olhos com mentes de podê-lo caçar. Tinha a virtude de ser grande trabalhador, choiava nũa telheira e nom perdia um jornal, salvo que a saúde o obrigasse a ter que guardar cama. Todo o dinheiro que ganhava pousava-lho nas mãos à sua progenitora, a que depois ia dando-lhe o que fosse mister para os seus dispêndios. Ao morrer sua mai, desfijo-se a chorar. E ao topar-se só, falto total dum espeque como o que acabava de perder, da noite para o dia, trocara-se noutro mui surpreendente: Começou em nom cumprir no trabalho e carretar botelhas de vinho para a casa, enfoscando-se nela, com a porta fechada, sem ver-lha aberta, às vezes, em todo o dia, até a hora que lhe quadrara do dia seguinte.

Pola tarde do mesmo dia que Tona estivera na tenda, foi-lhe petar à porta da casa, aparecendo com facha de se topar bêbedo; e como se lhe pesasse a língua para falar, tal como se fosse tatejo exclamou:

–Ah!….Nom sa…bia que… que era vo…vostê!

–E se o soubesses logo, quê?, –respondeu Tona.

–Po…po…pois –engadiu.

–Ai, se a santa de tua mai te olhasse assim!

–E … a que vem… o seu pe… pe… tar?

–A saber, que fijeche da minha galinha!

–Ah… Nom.. nom… nom…

–Nom quê? Fala claro!

–Nom… sabia…

–Vaites, vaites!… Assim que o raposo papador da minha galinha, vés sendo ti!… Pois, quando che passe a borracheira já falaremos disso –Deu meia volta e desapareceu.

Tona era tamém outra mulher vitima do infortúnio; perdera o seu home nos mesmos longes americanos quando ainda os dous filhos que tinha se achavam a meio criar, tendo igualmente do que a mai de Gelo, que passar nom pequenos sacrifícios para chegar a vê-los na puberdade e levar adiante o seu lar.

Aproveitando que Gelo estava no choio da telheira, o filho de Tona foi esculcar pola banda de atrás da casa dele, que tínha um hortejo, topando um panterno grande, feito de vimes, já aparelhado para caçar, descobrindo que, efeitivamente, ele vinha ser o rapinhador das aves que faltavam no rueiro.

Tona, inteirada da cousa, ao chegar Gelo do choio foi onde a ele, nom para lhe fazer agres amoestamentos, senom para lhe doar doces ofertamentos, convidando-o a ir viver à casa dela, do que já tinha falado com os filhos, os que se achavam de todo conformes.

Gelo ao escuitar as palavras maternais e agarimosas de Tona, boa amiga que sempre fora de sua mai, mudeceu de tanta emoçom, desatando a chorar e agachando a face com os braços apoiados na parede. Nisto, chega o filho de Tona, e sem meiar mais chisca de palavra, pilharom-no cada quem por um braço, levando-o para a sua casa, na que entrou como para ser outro compoente da família.

E aqui à beira de Tona, foi como se novamente reencontrasse o apoio que necessitava o seu feitio serôdio mentalmente. Continuou fazendo a vida dantes, de quando vivia sua mai, guardando a mesma boa conduta no seu comportamento de: um homem grande com magim dum neno pequeno.

(Da serie de relatos Cousas de qualquer rueiro)

Partitura manoscrita de Ricardo Flores.
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